Crédito de 50 anos para comprar casa

SumárioUm amigo meu que já não via há alguns anos acabou de comprar casa. Um apartamento muito fixe, com mais de 100 m², dois quartos, um escritório, uma cozinha grande… enfim, todas as comodidades que hoje em dia são imprescindíveis numa habitação moderna. Só que, ele só vai acabar de reembolsar o crédito habitação daqui... [lire la suite]

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Sumário

    Um amigo meu que já não via há alguns anos acabou de comprar casa. Um apartamento muito fixe, com mais de 100 m², dois quartos, um escritório, uma cozinha grande… enfim, todas as comodidades que hoje em dia são imprescindíveis numa habitação moderna. Só que, ele só vai acabar de reembolsar o crédito habitação daqui à 50 anos. Será que fez bom negócio?

    Um crédito de 50 anos não pode ser visto como um crédito normal. Mesmo para alguém começando agora a sua vida profissional, um crédito com uma duração tão longa implica que se acabe de pagar as mensalidades ao banco até depois do início da reforma! Já os dentes estão a cair que ainda está a pagar a sua casa que comprou quando era um garoto. Antigamente, até ao ano de 2002, existiam créditos bonificados, ou seja,  o estado ajudava as famílias a adquirir a sua residência, mas isso acabou. Se quiser comprar a casa dos seus sonhos e não tiver dinheiro, a opção proposta pela maioria dos bancos portugueses será um crédito com uma duração extra longa, que vai até aos 50 anos.

    A maioria dos bancos fazem créditos até 50 anos, para financiamentos até 90% do valor da compra. Ou seja, se a casa custar 100 000 euros, você vai ter que entrar com pelos menos 10 000 euros, e reembolsar 90 000 euros durante 50 anos. Regra geral, você pode obter um crédito até 50 anos, se, claro, tiver menos de 75 anos quando o crédito acabar. Uma vida a pagar. Também existem bancos, se não poder entrar com os 10% do valor da compra, que podem financiar 100% da casa. Desta forma, uma pessoa pode obter um financiamento bastante elevado, se endividar-se tudo quanto poder para um largo período de tempo. Os bancos portugueses permitem financiamentos que parecem, visto por olhos de um francês, demasiadamente permissivos. 50 anos é um período muito longo, em que demasiadas coisas podem acontecer, você não sabe do que é feito o dia de amanhã : pode perder o emprego, pode ter filhos que gastem mais dinheiro do que o previsto (será que consegue prever isso?), pode ter uma doença… nunca se sabe.

    O crédito a 50 anos deve ser tomado em conta unicamente na minha opinião por pessoas que querem ter uma proporção mínima de reembolso mensal à banca em relação aos seus rendimentos. Não deve ser utilizado para comprar uma casa maior do que aquela que os nossos rendimentos o permitem realmente.

    A regra do endividamento que os bancos utilizam para se saber se devem ou não emprestar dinheiro é bastante simples : a pessoa não pode ter que reembolsar mais do que uma terça parte dos seus rendimentos. Se ganhar 1000 euros por mês de ordenado, só poderá no máximo reembolsar 333 euros por mês. Esta regra permite assegurar ao banco que você não terá dificuldade em pagar a sua mensalidade, e que pode, se assim o desejar, fazer poupança. Claro está, a poupança vai ser feita preferencialmente no banco, ou seja, eles têm tudo à ganhar em não emprestar em demasia.

    O que é mais surpreendente, é eles fazerem empréstimos tão longos, só possíveis por que são variáveis (com algumas modalidades de taxa fixa nos primeiros anos). Este tipo de crédito é caríssimo, os juros são infindáveis, você no final do crédito talvez pagou duas ou três casas como a sua. Mas pelo menos começou a desfrutar da casa mais cedo, afinal você precisa de uma casa grande quando é jovem e ainda têm os filhos em casa, não é verdade? Mas apesar de tudo, 50 anos é um abuso, se não o amortizar antes. Este tipo de créditos só devem ser tidos em conta se souber perfeitamente que se tudo correr bem, vai conseguir amortizar antes do fim. Para isso, não se pode endividar ao máximo que pode, você precisa de poder poupar para amortizar o crédito, e prever um eventual percalço de vida. Será que quer deixar dívidas aos seus filhos?

    Esse meu amigo estava farto de pagar renda. Pagar renda é sem dúvida um mau negócio, já que o dinheiro aí investido nunca mais é recuperado. Se virmos a oferta de casas para aluguer e de casas para venda, nota-se logo que a oferta de venda de casas é de tal forma imponente que temos muito mais liberdade se comprarmos casa. Sem contar, claro, com as vantagens de não ter um senhorio. Mas o cálculo não pode ser feito de maneira tão linear!

    Digamos que ganho 1500 euros por mês. Pago uma renda de 500 euros por mês, poupo 500 euros por mês, o resto é para comer, férias, etc. O dado principal aqui é a poupança que faço, 500 euros mensais. Agora digamos que tenho um crédito de 1000 euros por mês, à pagar durante 30 anos. Já não posso poupar. Já estou na casa que eu queria, mas no final dos 30 anos, terei pago duas casas à banca. Será que se eu tivesse poupado durante mais tempo ficando na casa alugada, não poderia ter obtido um crédito menor, já que tinha uma poupança que ajudava na compra? Em vez de pagar duas vezes ou quase à banca no final do crédito, já só pagava uma casa e meia, se somarmos o dinheiro das rendas que nunca será recuperado, conseguimos obter um valor inferior aos juros pagos à banca!

    Você é que tem que saber se precisa mesmo de fazer mudanças de casa já, ou se pode esperar um pouco mais, o tempo de poupar para conseguir reduzir a quantia emprestada no banco. Quanto maior for a sua entrada de dinheiro para comprar a casa, menos juros terá que pagar, durante menos tempo, minimizando os riscos inerentes à vida de cada um (perda de emprego, acidente, divórcio…). Fazer um crédito de 50 anos, é fazer prova de muito optimismo em relação ao futuro, mas olha, porque não, cada um sabe de si ;)