Quem arruinou Portugal?

Portugal vive em 2011 uma das piores crises da sua História desde o 25 de abril. Mas como em tudo, há que relativisar, e relembrar alguns factos. Ouve-se demasiado nos média e nas conversas que os politicos é que arruinaram o país, que Portugal é um país atrasado e que não se pode fazer confiança nem no PS, nem no PSD. As conversas são tantas que é necessário achar um bode expiatório. Não estou de acordo!

Dor de cabeça
Dor de cabeça

Sumário

  1. Culpado numéro 1 : os bancos dos Estados Unidos da América
  2. Corrupção dos políticos
  3. O caso Islandês
  4. Agências de rating
  5. Culpado numero 2 : os média
  6. O que se deve fazer para sair da crise?
  7. Em quem devo votar?
  8. Porque Portugal não deve sair do Euro

As criticas negativas sempre foram muito mais audivéis do que as constructivas. Rara é a vez em que ouvi pessoas a propor soluções, mas muitas vezes ouvi dizer que os politicos são todos corruptos. Como sempre, critica fácil. Mas é verdade, não se pode negar, que o país está mal, que nunca esteve tão endividado, e que o desemprego e a precariedade são cada vez mais gritantes em Portugal. Ninguém o pode negar, mas de quem será mesmo a culpa? Acham mesmo que os politicos é que mandam? Estão muito enganados… Vamos lá encontrar o nosso bode expiatório, e vamos depois encontrar soluções.

Culpado numéro 1 : os bancos dos Estados Unidos da América

Foi em 2008 que tudo começou. Antes desta data, Portugal estava bem. Era um dos melhores alunos da Europa, com um crescimento deveras fraco, mas ao nível de outros países europeus. Estava-se então a investir imenso na modernização do país, principalmente nas suas infraestruturas e no que mais conta, nas pessoas, com uma politica forte na educação. Era um país que dava esperança para o longo termo, um país em que as pessoas acreditavam, mesmo se existiam problemas estruturantes gritantes, como os falsos recibos verdes. E depois veio a crise dos subprimes

Esta crise, provocada pela banca americana, que permitia créditos à quem não os podia pagar, foi destruidora para todas as economias ligadas a maior economia do mundo, directa ou indirectamente. Portugal, mesmo não tendo sofrido o choque frontal da crise americana, sofreu por ricochete. Não tinhamos divida antes, tinhamos um sector bancário seguro. A insanidade da banca americana provocou estragos, devido ao seu desregulamento, com o qual o mundo ocidental pactuava, e ainda pactua, infelizmente.

Corrupção dos políticos

Dizem que os nossos politicos são corruptos, e que é muito por culpa deles se Portugal está mal. A corrupção é um facto, meter a mão no tacho é verdade para muitos dos nossos dirigentes. Mas vamos lá lembrar uma coisa : os politicos estrangeiros não são menos corruptos! Nem na Islândia, nem na Irlanda, nem na Alemanha eles são menos corruptos, talvez mesmo antes pelo contrário. Não se pode verdadeiramente culpar a corrupção dos nossos politicos pelo estado lastimável de Portugal. Talvez seja coisa recente a corrupção nos países que sempre nos serviram de exemplo, porque só agora é que os media começaram a falar! Quando um país não está em crise, poucos são os que procuram o que está mal e podre. Mas quando algo corre mal, aí sim todos procuram o que correu mal, e geralmente acabam por encontrar culpados. Talvez não os mais culpados.

O caso Islandês

Os islandeses são um povo culto. Acabaram por compreenderem, muito por culpa da enorme divida que contrairam, que os culpados verdadeiros da crise que a Islândia atravessa não é a sua própria incompetência, nem a corrupção dos politicos. Não, a verdadeira crise foi provocada por banqueiros irresponsaveis, que emprestaram dinheiro que não tinham. Não estiveram de acordo em pagar pelos erros dos outros, e estão neste momento a lutar, sózinhos, contra a verdadeira ordem mundial, aquela da alta finança desregulada. A luta é desigual.

Em Portugal, a banca foi muito mais responsável, apesar de escândalos repetidos. A grande resistência que Portugal mostrou em 2008 deveu-se principalmente à economia regulada, obra de anos de protecionismo, uma herança de salazar, mas também da esquerda democrática, que vai dos comunistas ao PS. Não se deixou fazer à banca o que ela quis, e ela desempenhou o seu principal papel : financiar a economia real, investir no país, com mais ou menos sucesso, com mais ou menos corrupção. Nada a ver com a Islândia ou a Irlanda, países demasiado pequenos para brincarem com o fogo da alta finança como o fizeram.

Agências de rating

As agências de rating servem os propósitos da banca e dos especuladores. Uma agência de rating funciona, dando uma nota a uma empresa, um produto financeiro ou um país, o que permite avaliar o risco que existe para um investidor ao aplicar o seu dinheiro. Por interesses ocultos ou medos irracionais, as agências de rating começaram a degradar a nota portuguesa. Com a nota degradada, Portugal teve cada vez mais dificuldades em pedir dinheiro emprestado nos mercados internacionais, já que tinha que pagar cada vez mais juros. Nós vivemos a crédito, e fomos penalizados por isso. Mas o problema verdadeiro não é o endividamento português, outros países estão muito mais endividados e não foram penalizados, como um brilhante economista do New York Times explicou recentemente. O problema reside no credor : se Portugal tivesse pedido dinheiro emprestado aos portugueses, estaria muito menos dependente das especulações internacionais, a banca americana e os traders da City não seriam para aqui chamados. Por isso é boa ideia aplicar as poupanças em Certificados do Tesouro ou Certificados de Aforro! Todos ganhamos, se tivermos a sorte de ter algum dinheiro para aplicar.

Culpado numero 2 : os média

Muito do que se passa num país é feito sem conhecimento da população. Existem situações em que se o povo soubesse, não se passariam assim. Os média são os principais responsáveis pela pouca informação verdadeiramente util aos portugueses, que lhes permitem tomar as decisões certas. Mas existe também um certo desconhecimento geral dos portugueses, que não é ensinado nas escolas nem falado nos jornais televisivos. Isto é um facto para o qual tento alertar aqui no Portugal Crédito : quantos sabem que existe a insolvência singular? A falta de informação é gritante, mas seria fácil culpar só os media. Os jornais escrevem sobre aquilo que o povo quer ler, e a realidade é tão simples: o povo quer é futebol. Existe uma dada altura em que alguém têm que fazer algo para sair deste circulo vicioso, talvez comunicando de uma forma didatica o que importa realmente, como tento fazer à minha pequena escala.

Se os media tivessem feito verdadeiro jornalismo de investigação, será que teriamos deixado fazer este pandemónio economico e politico mundial? Se os media tivessem dado a palavra às pessoas certas, será que tinhamos construido a Europa começando ao contrario, fazendo a moeda única antes da união politica e necessaria harmonização fiscal? Nunca foi dado à escolher ao povo se queria um “presidente da republica europeia” por exemplo. Talvez se soubessem que a partir de um certo numero de assinaturas é possível fazer um referendo nacional, as coisas mudariam.

O Artigo 16.° da Lei Orgânica do Regime do Referendo é claro: “O referendo pode resultar de iniciativa dirigida à Assembleia da República por cidadãos eleitores portugueses, em número não inferior a 75 000, regularmente recenseados no território nacional, bem como nos casos previstos no artigo 37.º, n.º 2, por cidadãos aí referidos.”.

Reparem que já vi grupos Facebook portugueses mais numerosos do que os 75000 necessários.

O que se deve fazer para sair da crise?

Quando estamos doentes, antes de começar a tomar remédios, é preciso saber o que temos. Conhecer o doente é a primeira coisa a fazer. Para um país, é igual. É preciso saber quais são as falhas, mas também os pontos fortes de Portugal.

A primeira coisa a fazer, é educar. Se as pessoas ignoram o problema, como podem pensar em resolvê-lo? Precisamos de portugueses mais cultos, e isso faz-se com mais e melhor escola, melhor informação, melhores media. A Internet é um grande motor para a melhoria geral do conhecimento popular, e acho que ninguém ainda se apercebeu até que ponto está a mudar as mentalidades… Nem que seja para impedir a “memória curta” do povo, já que tudo o que é dito na Internet fica lá para todo o sempre… Initiativas como a Geração à Rasca, os Homens da Luta e mais que se podem encontrar no Facebook, mesmo se não são propriamente as mais acertadas acerca do futuro, têm o mérito de provocar, de obrigar a uma reflexão.

Em quem devo votar?

Obviamente que não vamos dizer qual o politico melhor para dirigir o país. Esta decisão toma-se segundo o caso pessoal de cada um. Em geral o operário têm mais afinidades com o partido comunista, o empresário com o PSD. O essencial é termos a certeza que votamos conforme os nossos interesses próprios, ou aqueles que julgamos bom para o país. E para isso, é preciso, uma vez mais, ser informado, para se saber se será melhor votar no Pedro Passos Coelho ou no José Socrates.

Se quisermos mesmo ir mais avante, talvez seja boa ideia fazer parte de um partido politico. Uma pessoa como Fernando Nobre candidata-se nas listas do PSD, porque percebeu que só podia mudar as coisas do interior, fazendo parte ele proprio de um partido com hipoteses de governar.

Porque Portugal não deve sair do Euro

Uma pequena nota final, para falar de um tema que volta sempre que se fala de crise economica, que consiste em por a culpa de todos os males na moeda única. A economia tornou-se mundial. Esta frase por si só devia chegar para perceber o resto. Hoje, Portugal precisa dos outros países, mais do que nunca, se quiser continuar a ser um país moderno. O que acontece se sairmos do Euro? Portugal fica isolada e à mercê da especulação internacional, mesmo se praticasse a politica isolacionista e protecionista total. Isto porque temos de comprar petroleo, temos de comprar algodão, temos de comprar tudo aquilo que faz a nossa vida moderna. Portugal não é auto suficiente, e nem pode ter a pretensão de poder fazer tudo no seu canto. O euro é uma garantia minima de salvaguarda dos preços daquilo que compramos lá fora.